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Casa das Sete Senhoras
Uma casa, sete senhoras. E muitos fantasmas.
Tito Mouraz apresenta em Lisboa, na galeria Módulo, um trabalho sobre os afectos com os lugares que julgamos compreender. A Casa das Sete Senhoras tem dado visibilidade internacional a um fotógrafo que se afirma no panorama nacional.
"Não há como fugir a isto: uma das maiores fornecedoras de matéria-prima da fotografia chama-se “experiência pessoal”. E com ela a memória e a lembrança. Na série Casa das Sete Senhoras, Tito Mouraz (Portugal, 1977) usa ainda os afectos e um “ferimento” relacionado com a “magia” e o “medo” que pairaram (ainda pairam) sobre um lugar, que é o lugar onde nasceu [o fotógrafo prefere não o identificar]. Dizia a lenda que na casa do Casal, assombrada até hoje, viviam sete senhoras, todas irmãs solteiras. Uma era bruxa e em noites de lua cheia, vestidas de branco, voavam da varanda para os ramos frondosos de um castanheiro, sobranceiro à rua. Daí seduziam os homens que passavam. A casa e as terras que a rodeiam ficaram envoltas numa aura de mistério, uma tensão subtil que Tito Mouraz conseguiu passar para as imagens que se mostram na galeria Módulo, em Lisboa, até ao dia 21 de Fevereiro.
Apesar desta familiaridade com o lugar, Tito Mouraz vasculhou a memória à procura de referências e quando isso não foi suficiente procurou conversar com pessoas que estão ligadas à terra “como as árvores”: “Saber como era antes de mim, ouvir e imaginar, foi tão importante como o acto de fotografar.”
A peça fundamental deste trabalho, uma casa, nunca se mostra (ainda existirá?), ausência que faz com que aumente a fantasmagoria. O que vemos é “apenas” aquilo e aqueles que a rodeiam — o absurdo na paisagem, as mudanças que esse espaço sofreu, o abandono a que foi sujeito, o envelhecimento dos que lá ficaram.
Tito Mouraz ganhou em 2013 o primeiro prémio internacional Emergentes DST dos Encontros da Imagem de Braga com este trabalho, bem como o primeiro lugar na leitura de portfólios Carpe Diem Arte e Pesquisa, em Lisboa. Na última edição do festival de fotografia minhoto, a Casa das Sete Senhoras teve a sua primeira apresentação pública. Depois, viajou para a Galiza e no final da exposição na Módulo seguirá para Paris, França, e Derby, Inglaterra.
in "2 Público", ed. 9065, 02/2015
Casa das Sete Senhoras
in “A Revista do Expresso”, ed. 2204, 01/2015
Tito Mouraz não é propriamente um desconhecido (foi o vencedor do Prémio Internacional Emergentes dos Encontros da Imagem em 2013, e expôs no ano passado no Carpe Diem em Lisboa), mas a presente exposição lança uma luz mais duradoura sobre a sua produção fotográfica recente, nomeadamente sobre a série “Casa das Sete Senhoras” que remete para uma história simultaneamente auto-biográfica e mítica na região da Beira Alta em torno de uma casa supostamente assombrada onde viveram sete mulheres.
Casa das Sete SenhorasCasa das Sete Senhoras
in "Observador", 11/2016
"Equacionando mitologia e natureza num mesmo plano, o interesse do autor pela «lenta desactivação do maneio agrícola, a transformação progressiva do território, o envelhecimento» (i.e. o interesse indirectamente documental do livro), permanece, salvo no que toca à velhice, subentendido. Mesmo as imagens mais explícitas a esse respeito, por exemplo, as imagens de queimas, acabam por encadear na «feição mágica e medonha» de uma «experiência cíclica» (nas palavras do autor, «o meu maior ferimento»). Mais do que por uma narrativa, este livro é estruturado em torno de ciclos e transformações contra um pano de fundo alternante, ora a noite, ora o dia. Na verdade, a estrutura circular e a ideia de ciclos fundamentais (noite e dia, sono e vigília, vida e morte, fogo e cinza, a passagem das estações, etc.) domina todo o trabalho. Mais ou menos a meio, Mouraz faz questão de sublinhá-lo com um díptico composto por duas curvas antepostas, logo seguido por uma imagem de um círculo de pedras."
Casa das Sete SenhorasCasa das Sete Senhoras
in "Ípsilon, Público", ed. 9056, 01/2015
"Eis, assim, uma oportunidade para apreciar um trabalho que, tendo na paisagem da Beira Alta o seu motivo central, se furta ao documental, ao etnográfico e ao realismo. Tal evasão, que não é definitiva, explica-se pelos elementos que animam a fotografia de Tito Mouraz: a imaginação, a memória, a consciência de que a deambulação pelo território cria ficções. Mas nas imagens, a preto-e-branco, de “Casa das Sete Senhoras”, sobressai um gesto que antes permanecia discreto: a procura de um reencantamento, de lugares que resistam à matematização da vida. "
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