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Casa das Sete Senhoras
Tito Mouraz não é propriamente um desconhecido (foi o vencedor do Prémio Internacional Emergentes dos Encontros da Imagem em 2013, e expôs no ano passado no Carpe Diem em Lisboa), mas a presente exposição lança uma luz mais duradoura sobre a sua produção fotográfica recente, nomeadamente sobre a série “Casa das Sete Senhoras” que remete para uma história simultaneamente auto-biográfica e mítica na região da Beira Alta em torno de uma casa supostamente assombrada onde viveram sete mulheres.
O fotógrafo aproxima-se do seu objeto, valorizando os elementos espaciais mas também a presença das pessoas que o habitam. As suas imagens a preto e branco juntam à dimensão fantasmática das narrativas orais a fantasmagoria inerente à natureza da fotografia. Neste caso elas geram uma corrente de pequenas revelações sobre a natureza do lugar que Mouraz parece conseguir extrair articulando precisamente um equilíbrio entre o visível e invisível. Isso acontece em relação ao ambiente do qual Tito conserva o caráter obscuro (um campo de palha batido pelo vento, uma árvore espectral mergulhada no negrume da noite, uma escada vertical que parece subir rumo ao vazio) ou em relação a outros indícios que parecem aproximar-se mais de aspetos memoriais e autobiográficos sem nunca os desvelarem totalmente (a fotografia não é uma arte narrativa e a de Mouraz muito menos), como a imagem de um cavalo de pau, a visão de uma mulher idosa de rosto tapado ou os patos que parecem vogar num mar negro. Estes são alguns exemplos de uma imagética que com frequência se aproxima de um realismo mágico, sem nunca o tornar caricatural ou ceder à tentação de revelar o que deve permanecer obscuro ou dessa obscuridade ser a imagem.
in “A Revista do Expresso”, ed. 2204, 01/2015
Casa das Sete Senhoras
in "2 Público", ed. 9065, 02/2015
Não há como fugir a isto: uma das maiores fornecedoras de matéria-prima da fotografia chama-se “experiência pessoal”. E com ela a memória e a lembrança. Na série Casa das Sete Senhoras, Tito Mouraz (Portugal, 1977) usa ainda os afectos e um “ferimento” relacionado com a “magia” e o “medo” que pairaram (ainda pairam) sobre um lugar, que é o lugar onde nasceu [o fotógrafo prefere não o identificar]. Dizia a lenda que na casa do Casal, assombrada até hoje, viviam sete senhoras, todas irmãs solteiras. Uma era bruxa e em noites de lua cheia, vestidas de branco, voavam da varanda para os ramos frondosos de um castanheiro, sobranceiro à rua. Daí seduziam os homens que passavam. A casa e as terras que a rodeiam ficaram envoltas numa aura de mistério, uma tensão subtil que Tito Mouraz conseguiu passar para as imagens que se mostram na galeria Módulo, em Lisboa, até ao dia 21 de Fevereiro.
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in "Observador", 11/2016
"Equacionando mitologia e natureza num mesmo plano, o interesse do autor pela «lenta desactivação do maneio agrícola, a transformação progressiva do território, o envelhecimento» (i.e. o interesse indirectamente documental do livro), permanece, salvo no que toca à velhice, subentendido. Mesmo as imagens mais explícitas a esse respeito, por exemplo, as imagens de queimas, acabam por encadear na «feição mágica e medonha» de uma «experiência cíclica» (nas palavras do autor, «o meu maior ferimento»). Mais do que por uma narrativa, este livro é estruturado em torno de ciclos e transformações contra um pano de fundo alternante, ora a noite, ora o dia. Na verdade, a estrutura circular e a ideia de ciclos fundamentais (noite e dia, sono e vigília, vida e morte, fogo e cinza, a passagem das estações, etc.) domina todo o trabalho. Mais ou menos a meio, Mouraz faz questão de sublinhá-lo com um díptico composto por duas curvas antepostas, logo seguido por uma imagem de um círculo de pedras."
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in "Ípsilon, Público", ed. 9056, 01/2015
"Eis, assim, uma oportunidade para apreciar um trabalho que, tendo na paisagem da Beira Alta o seu motivo central, se furta ao documental, ao etnográfico e ao realismo. Tal evasão, que não é definitiva, explica-se pelos elementos que animam a fotografia de Tito Mouraz: a imaginação, a memória, a consciência de que a deambulação pelo território cria ficções. Mas nas imagens, a preto-e-branco, de “Casa das Sete Senhoras”, sobressai um gesto que antes permanecia discreto: a procura de um reencantamento, de lugares que resistam à matematização da vida. "
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