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Casa das Sete Senhoras
Ainda se diz por aqui que a casa está assombrada.
Na casa do Casal viviam sete senhoras, todas irmãs solteiras. Uma era bruxa. Em noites de lua cheia, as senhoras, voariam nas suas vestes brancas da varanda para os ramos frondosos do castanheiro, sobranceiros à rua. Daí seduziriam os homens que passassem.
Na Casa das Sete Senhoras, conversar, saber como era antes de mim, ouvir e imaginar, foi tão importante quanto o ato de fotografar. Comecei por fazer alguns retratos de pessoas. Interessaram-me porque sempre viveram aqui e estão ligadas à terra como as árvores. Falam do tempo, das suas recordações, das perdas… muitas já vestem de preto.
Esta série dá conta de um persistente regresso ao mesmo lugar, para perscrutar as suas diferenças (a lenta desactivação do maneio agricola, a transformação progressiva do território, o envelhecimento…), porém escutar o mesmo mocho, a mesma raposa, as mesmas estórias.
Tal como na lenda, talvez tenha sido a feição mágica e medonha, desta experiência cíclica, o meu maior ferimento: a noite, os fumos, os cadáveres, a lua, a ruína, os sons.
Um lugar de afetos, afinal, também nasci aqui.
Beira-Alta, Portugal [2010-2015]
Casa das Sete Senhoras
in "2 Público", ed. 9065, 02/2015
Não há como fugir a isto: uma das maiores fornecedoras de matéria-prima da fotografia chama-se “experiência pessoal”. E com ela a memória e a lembrança. Na série Casa das Sete Senhoras, Tito Mouraz (Portugal, 1977) usa ainda os afectos e um “ferimento” relacionado com a “magia” e o “medo” que pairaram (ainda pairam) sobre um lugar, que é o lugar onde nasceu [o fotógrafo prefere não o identificar]. Dizia a lenda que na casa do Casal, assombrada até hoje, viviam sete senhoras, todas irmãs solteiras. Uma era bruxa e em noites de lua cheia, vestidas de branco, voavam da varanda para os ramos frondosos de um castanheiro, sobranceiro à rua. Daí seduziam os homens que passavam. A casa e as terras que a rodeiam ficaram envoltas numa aura de mistério, uma tensão subtil que Tito Mouraz conseguiu passar para as imagens que se mostram na galeria Módulo, em Lisboa, até ao dia 21 de Fevereiro.
Casa das Sete SenhorasCasa das Sete Senhoras
in “A Revista do Expresso”, ed. 2204, 01/2015
Tito Mouraz não é propriamente um desconhecido (foi o vencedor do Prémio Internacional Emergentes dos Encontros da Imagem em 2013, e expôs no ano passado no Carpe Diem em Lisboa), mas a presente exposição lança uma luz mais duradoura sobre a sua produção fotográfica recente, nomeadamente sobre a série “Casa das Sete Senhoras” que remete para uma história simultaneamente auto-biográfica e mítica na região da Beira Alta em torno de uma casa supostamente assombrada onde viveram sete mulheres.
Casa das Sete SenhorasCasa das Sete Senhoras
in "Observador", 11/2016
"Equacionando mitologia e natureza num mesmo plano, o interesse do autor pela «lenta desactivação do maneio agrícola, a transformação progressiva do território, o envelhecimento» (i.e. o interesse indirectamente documental do livro), permanece, salvo no que toca à velhice, subentendido. Mesmo as imagens mais explícitas a esse respeito, por exemplo, as imagens de queimas, acabam por encadear na «feição mágica e medonha» de uma «experiência cíclica» (nas palavras do autor, «o meu maior ferimento»). Mais do que por uma narrativa, este livro é estruturado em torno de ciclos e transformações contra um pano de fundo alternante, ora a noite, ora o dia. Na verdade, a estrutura circular e a ideia de ciclos fundamentais (noite e dia, sono e vigília, vida e morte, fogo e cinza, a passagem das estações, etc.) domina todo o trabalho. Mais ou menos a meio, Mouraz faz questão de sublinhá-lo com um díptico composto por duas curvas antepostas, logo seguido por uma imagem de um círculo de pedras."
Casa das Sete Senhoras