Textos
Mergulho
"O ambiente é silencioso, mas onde pressentimos a acção do vento e das vagas oceânicas sobre as zonas de costa. A água, as rochas e as pedras, a luz e a obscuridade, o dia e a noite, são representados como elementos imanentes a uma realidade habitada por movimentos, fluxos e mutações."
Mergulho
Ruão, Mafalda, in "Umbigo", 04/2021
"Mais do que fotografias, assemelham-se a pinturas, desenhos, sonhos ou visões imaginadas que, ainda que reveladas pelo autor, exploram imaginários de todos nós. Uma reflexão além do território, que navega o espectro imenso de possibilidades do médium fotográfico, num transe constante de relações e influências, não apenas de materiais e suporte, como de estéticas e formas de ver."
Farleigh
"Farleigh situa-se numa latitude e longitude indetermináveis. Sabe-se que fica algures do outro lado do território que se conhece ou se julga conhecer. Para chegar a Farleigh, provavelmente, ter-se-á de atravessar o mar, subir dunas e encostas rochosas, adentrar por grutas, seguir por campos infinitos até ao sopé da montanha adormecida revestida de negro. Pelo caminho, encontrar-se-ão resquícios de sais minerais, vegetação frondosa de cores exuberantes e vivas, árvores serpenteantes e vestígios de civilizações antigas."
Tito Mouraz e as suas (nossas) Paisagens interiores
Teixeira, Mafalda, in "Umbigo", 04/2024
"A cores ou a preto e branco, as obras fotográficas de Tito Mouraz, evocam tanto um mundo etéreo, como por vezes um ambiente sombrio e inquietante que, ao mesmo tempo, nos desassossega e tranquiliza. Jogos de sombra e luz; chiaroscuro; harmonias e contrastes cromáticos e de temperaturas; a magistral utilização do flash; a precisão na escolha dos enquadramentos, tudo contribui para a criação de uma atmosfera hipnótica e nostálgica, em que o silêncio impera."
Rio Manso
"É impossível ver estas fotografias aberta e surpreendentemente felizes sem pensarmos quanto a imagem do ‘interior’ mudou para o país nesses oito anos. E todos sabemos que mudou à força. À força de serras queimadas, de povoações destruídas, de cadáveres perdidos em estradas assassinas que obrigaram o país a perceber da forma mais dura os custos de vivermos todos inclinados sobre o mar.
Mas as imagens de Mouraz ajudam a desfazer a abstração esquemática e distante do “mundo rural” de um outro modo. Devolvendo-o a uma memória, a dele, a do lugar e a nossa."FluvialFluvial
"Indeed, Fluvial carries sediments of sweet eroded evocations, meandering away from the actual experience; as to commemorate the unwinding spirit of an endless sojourn along the river, a perpetual recording and flushing of the ambrosial sweetness and cherubic innocence of a Portuguese summer weekend."
FluvialFinding Yourself in the Water
The flow of rivers, the flow of life, the washing away of worry and care: that’s what you’ll find in Tito Mouraz’s beautiful photobook Fluvial, a story of the rivers across northern and central inland Portugal.
FluvialFluvial
"A paisagem do fotógrafo Tito Mouraz devolve ao espectador um olhar introspetivo do que se entende de perceção contemporânea, de modo a estabelecer uma nova relação íntima entre ser humano e natureza. Trata-se de refletir sobre a paisagem enquanto experiência de lazer."
FluvialNo Interior da Terra
Vidal, Carlos, in "Sábado", ed. 471, 03/2018
Aqui há uma espécie de praia fluvial, por ela passam figuras "normais" que a fotografia, seu enquadramento e luz, isolamento e olhar para a câmara, torna figuras estranhas, mais amedontradas que medonhas: mesmo a mulher grávida de fato-de-banho negro cujo ventre se apaga no fundo negro da foto é um espectro que não intimida.
FluvialO olhar-em-presença como presença: do singular, do seu mistério
O singular floresce, luminescente mas vulnerável, na figura feminina que emerge de um meio aquátil absortivo, lúgubre. Na margem da ribeira o observador olha e fotografa um rosto de mulher emoldurado pela esboçada oval de uma sombra, mas meio oculto por ramagens de árvores. Submersa até quase aos ombros, devolve-lhe um olhar enamorado. Este olhar tem o seu duplo no reflexo da água e, ao apresentar-se nele, torna-se denso e temeroso: a bela mulher vê o observador a olhá-la e, do seu ponto de vista, também ele se lhe apresenta meio oculto pela vegetação.
FluvialFluvial
A série Fluvial tece ainda uma analogia entre erosão e visão, baseada em analogias visuais entre corpos humanos e outros corpos orgânicos e inorgânicos. Tal como as águas correntes torcem troncos de árvores e moldam blocos minerais, que emergem nestas imagens quase na condição de esculturas de land art, a relação de longo prazo com um território tem neste trabalho de Tito Mouraz uma função depurante e reveladora, levando a que veja estas figuras humanas, antes de qualquer outro aspecto, como formas análogas àquelas.
FluvialFluvial
"troncos e seixos são aqui assemelhados a pequenas esculturas (antropomórficas, algumas delas); o corpo humano, aqui quase anfíbio, vê-se muitas vezes reduzido à simples forma, à superfície submersa, quer adoptando o leito aquático enquanto instrumento óptico, quer modelado pela luz."
FluvialCasa das Sete Senhoras
in "2 Público", ed. 9065, 02/2015
Não há como fugir a isto: uma das maiores fornecedoras de matéria-prima da fotografia chama-se “experiência pessoal”. E com ela a memória e a lembrança. Na série Casa das Sete Senhoras, Tito Mouraz (Portugal, 1977) usa ainda os afectos e um “ferimento” relacionado com a “magia” e o “medo” que pairaram (ainda pairam) sobre um lugar, que é o lugar onde nasceu [o fotógrafo prefere não o identificar]. Dizia a lenda que na casa do Casal, assombrada até hoje, viviam sete senhoras, todas irmãs solteiras. Uma era bruxa e em noites de lua cheia, vestidas de branco, voavam da varanda para os ramos frondosos de um castanheiro, sobranceiro à rua. Daí seduziam os homens que passavam. A casa e as terras que a rodeiam ficaram envoltas numa aura de mistério, uma tensão subtil que Tito Mouraz conseguiu passar para as imagens que se mostram na galeria Módulo, em Lisboa, até ao dia 21 de Fevereiro.
Casa das Sete SenhorasCasa das Sete Senhoras
in “A Revista do Expresso”, ed. 2204, 01/2015
Tito Mouraz não é propriamente um desconhecido (foi o vencedor do Prémio Internacional Emergentes dos Encontros da Imagem em 2013, e expôs no ano passado no Carpe Diem em Lisboa), mas a presente exposição lança uma luz mais duradoura sobre a sua produção fotográfica recente, nomeadamente sobre a série “Casa das Sete Senhoras” que remete para uma história simultaneamente auto-biográfica e mítica na região da Beira Alta em torno de uma casa supostamente assombrada onde viveram sete mulheres.
Casa das Sete SenhorasCasa das Sete Senhoras
in "Observador", 11/2016
"Equacionando mitologia e natureza num mesmo plano, o interesse do autor pela «lenta desactivação do maneio agrícola, a transformação progressiva do território, o envelhecimento» (i.e. o interesse indirectamente documental do livro), permanece, salvo no que toca à velhice, subentendido. Mesmo as imagens mais explícitas a esse respeito, por exemplo, as imagens de queimas, acabam por encadear na «feição mágica e medonha» de uma «experiência cíclica» (nas palavras do autor, «o meu maior ferimento»). Mais do que por uma narrativa, este livro é estruturado em torno de ciclos e transformações contra um pano de fundo alternante, ora a noite, ora o dia. Na verdade, a estrutura circular e a ideia de ciclos fundamentais (noite e dia, sono e vigília, vida e morte, fogo e cinza, a passagem das estações, etc.) domina todo o trabalho. Mais ou menos a meio, Mouraz faz questão de sublinhá-lo com um díptico composto por duas curvas antepostas, logo seguido por uma imagem de um círculo de pedras."
Casa das Sete SenhorasCasa das Sete Senhoras
in "Ípsilon, Público", ed. 9056, 01/2015
"Eis, assim, uma oportunidade para apreciar um trabalho que, tendo na paisagem da Beira Alta o seu motivo central, se furta ao documental, ao etnográfico e ao realismo. Tal evasão, que não é definitiva, explica-se pelos elementos que animam a fotografia de Tito Mouraz: a imaginação, a memória, a consciência de que a deambulação pelo território cria ficções. Mas nas imagens, a preto-e-branco, de “Casa das Sete Senhoras”, sobressai um gesto que antes permanecia discreto: a procura de um reencantamento, de lugares que resistam à matematização da vida. "
Casa das Sete SenhorasCasa das Sete Senhoras
Ainda se diz por aqui que a casa está assombrada. Na casa do Casal viviam sete senhoras, todas irmãs solteiras. Uma era bruxa.
Esta série dá conta de um persistente regresso ao mesmo lugar, para perscrutar as suas diferenças (a lenta desactivação do maneio agricola, a transformação progressiva do território, o envelhecimento…), porém escutar o mesmo mocho, a mesma raposa, as mesmas estórias.
Casa das Sete SenhorasCasa das Sete Senhoras
O seu olhar não se desenvolve através da atenção aos objetos da paisagem, nem às suas configurações mais ou menos pitorescas, nem lhe interessa o exotismo que os lugares distantes parecem prometer.
Casa das Sete SenhorasOpen Space Office
Na série fotográfica Open Space Office, de Tito Mouraz, as paisagens industriais – apresentadas em imagens abstractas e parceladas –, presentificam-se através de uma acuidade plástica, espelhada no trabalho feito sobre dimensões como a luz, o cromatismo, a focagem e a claridade.
Open Space OfficeRua da Cabine
Se há memórias que me marcam, a Rua da Cabine, na Lapa do Lobo, é uma delas. Ali passei grande parte das minhas férias escolares, entre a casa e a mercearia dos meus avós maternos e o Vale do Boi, onde o meu avô amanhava a terra.
Rua da CabineOlhar-Escultor
Na entrada “Ruína/Restauro” da Enciclopédia Einaudi, Carlo Carena (citando outros) diz-nos que a paisagem é a natureza vista através da cultura. Depois do romantismo, que é imanentista (a verdade é intrínseca à arte, só a arte gera verdades) e anti-iluminista, certamente que nunca mais uma paisagem se libertou desta “natureza cultural”, em que estes dois pólos (natureza e cultura) configuram um pensamento próprio e uma forma de conhecimento. A natureza torna-se indissociável da presença humana, arquétipa e remota (digamos deste modo), tendo nela dissolvida e irmanada a marca humana (na terra) sob a forma de carcaças de edifícios e ruínas (que são vivas como os arbustos e as florestas, em suma).
Open Space OfficeUm paraíso que é fatal
Vidal, Carlos, in "Sábado", ed. 471, 05/2013
O autor não produz a desolação: o espaço em volta é que está desvitalizado. Estas pedreiras são perturbadoras: espaços fechados terminam em riachos verdes e azuis – cujas águas são mortais.
A côr destes desfiladeiros de mármore é sanguinolenta, mas por vezes o lado paradisíaco espreita. Um paraíso fatal.Open Space OfficeOpen Space Office
A série aqui apresentada foi realizada em Portugal durante 3 anos, e representa uma paisagem transformada que reflecte a existência humana como ser que constrói, reconstrói e a contempla. A paisagem aparece-nos, irreversivelmente, transformada tendo sido esta transformação que despertou o meu interesse para a concretização deste projecto, tomando, deste modo, a própria paisagem e respectiva matéria como referência.
Open Space Office