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Um paraíso que é fatal
Tito Mouraz revela desde a primeira indivudual, em 2009, enorme inteligência ao politizar a imagem fotográfica – mas sem manipulações, uma vez que opta pela fotografia analógica.
E vai mais longe nesta nova série, “Open Space Office”, maioritariamente de fotografias das pedreiras de Estremoz, Borba e Vila Viçosa.
Formalmente rigoroso, o trabalho de Mouraz lembra as fotografias de fábricas dos Becher – que mostravam infindáveis estruturas de produção que se “acompanham” umas às outras. Mas, em Mouraz, cada imagem trata um objecto solitário e uma espécie de “frio” pós-apocalipse: teleféricos “congelados”, uma barraca de praia isolada, etc.
O autor não produz a desolação: o espaço em volta é que está desvitalizado. Estas pedreiras são perturbadoras: espaços fechados terminam em riachos verdes e azuis – cujas águas são mortais.
A côr destes desfiladeiros de mármore é sanguinolenta, mas por vezes o lado paradisíaco espreita. Um paraíso fatal.
Vidal, Carlos, in "Sábado", ed. 471, 05/2013